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Sobre os leitores de quadrinhos no Brasil, por Rapha Pinheiro


Coluna do Editor, Almanaque Guará #04




Quem lê quadrinhos no Brasil? Você? Eu? Será que a gente consegue alguma resposta válida pra traçar um perfil? Vamos conversar sobre isso.


Para se fazer qualquer análise dos leitores de quadrinhos no Brasil, precisamos de duas coisas importantes: amostragem significativa e amostragem representativa.

Significativa, primeiro, porque se a gente fizer uma pesquisa com 15 pessoas, muito provavelmente elas não equivalem a todos os milhares de leitores no país. Precisamos de números grandes pra isso.


Representativa porque se essas 15 pessoas hipoteticamente entrevistadas forem da mesma cidade / bairro / classe social, elas não vão nos dizer quais são as cidades / bairros / classes sociais que realmente leem.


Conseguir isso é mais difícil do que parece, visto que não temos acesso fácil a essa quantidade e diversidade de pessoas. Talvez as grandes editoras como a Panini ou os grandes varejos como a Amazon tenham algo próximo de uma lista de clientes, mas esses dados não são públicos. Em tempos onde as informações pessoais valem mais do que qualquer coisa, não existe interesse em revelar esses dados assim tão fácil.


Foi pensando nisso que eu comecei a minha própria pesquisa em 2018. Através dos inscritos do canal e da minha rede de contatos na cena, venho divulgando um formulário anual que tenta encontrar esse perfil do leitor brasileiro de quadrinhos.


Ao longo dos anos, as perguntas foram ficando melhor elaboradas e o escopo mais abrangente. Não acho que essa pesquisa seja ideal, até porque eu não sou da área da estatística ou geografia, mas ela tem algo que é muito importante para a cena de quadrinhos: seus dados são públicos e gratuitos. Você pode acessar todas as respostas pelo meu site e cruzar tudo com dados do IBGE ou de onde achar relevante. É uma pesquisa colaborativa e, ao meu ver, importante para quem faz quadrinhos e quer entender para quem esses quadrinhos são feitos.


Convido você a olhar os dados e tirar as suas próprias conclusões, mas gostaria de compartilhar aqui algumas das leituras que fiz e que pautam o que buscamos fazer aqui na Guará.


Primeiramente, os canais de mídia especializada são muito importantes para a cena, particularmente os gibitubers. Muitas pessoas acompanham canais e buscam comprar as suas recomendações. Se você faz quadrinhos, valorize o trabalho feito pela mídia porque ela pode ser a diferença entre esgotar ou encalhar a sua tiragem.


Em segundo lugar, meninas ainda são minoria entre os leitores de gibi no país. Eu atribuo isso ao ambiente tóxico que os caras costumam cultivar em grupos e ambientes ditos “nerds”. Acho importante mudarmos isso mas, sendo bem sincero, não sei exatamente como. Convido as leitoras do Almanaque a mandarem ideias. Adoraríamos ouvir mais de vocês!


Por fim, o dado que me parece mais claro ao olhar a pesquisa é que o leitor de quadrinhos envelheceu e ficou mais rico. Isso vem tornando o quadrinho cada vez mais de nicho e gerando os fenômenos do quadrinho de luxo com bookplate e o zine de capa dura.


Não acho que quadrinho de luxo seja um problema, mas só ter essa opção num país onde temos tantos leitores em potencial é uma pena. Um brasileiro médio não consegue pagar R$80 num gibi. É importante ter material pra ele também. Mais do que isso, se o gibi continuar sendo feito apenas para o leitor mais velho e com grana, não vamos renovar nosso público. Isso pode causar a implosão do mercado em algumas décadas, quando essa galera começar a ficar velha e não tiver ninguém novo chegando no lugar.


Bom, como eu disse, essas são algumas das minhas leituras dos dados. Convido, mais uma vez, os leitores a tirarem suas próprias conclusões e contribuírem para o debate. Me digam o que vocês acham e vamos construir essa cena nacional juntos!


Rapha Pinheiro é Editor-chefe do Universo Guará.

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